“Agora, neste momento, estou para rasgar o meu próprio coração, para banhar com meu sangue o seu rosto. Eu ficaria satisfeito se, no momento em que meus batimentos cessarem, você estiver gerando uma nova vida em seu coração. ”
- Kokoro. Soseki, Natsume
Fala galerinha! Depois de
muito tempo enrolando, cá estou eu, novamente, para retomar a série de reviews
sobre as obras abordadas em Aoi Bungaku. Dessa vez vou falar da única obra, de
todas as animadas, que eu li o livro que lhe deu origem; hoje é dia de falar
sobre Kokoro, obra de Natsume Soseki. Então, sentem-se, peguem suas pipocas e
vamos para mais um review maroto.
Os
dois episódios de Kokoro foram exibidos, respectivamente, em 21 e 28 de
novembro. E logo no primeiro episódio desse “arco” já temos uma clara noção que
o ambiente que nos é apresentado é o mais real até aqui, pois enquanto Ningen
Shikaku é mais mórbido e triste, Sakura no Mori no Mankai no Shita nos trazia
aquele ar mais lúdico e bonito, apesar de ter seus temas sérios. E nessa
história já começamos de um modo mais pé no chão, mais calmo e muito bem
retratado pela palheta de cores que foi escolhida.
K vai morar com o
professor, porém acaba se sentindo atraído pela garota e isso atraí o ciúme e
fazendo o professor mostrar, cada vez mais, sua face egoísta, e daí em diante a
história só segue o rumo para um final trágico, digamos.
Antes de começar as
considerações alguns detalhes técnicos rápidos; esse é a segunda obra com
character design de Takeshi Obata e além dessa versão animada, a obra conta com
duas adaptações para filme, uma em 1955 e outra em 1973; acrescenta-se também
duas adaptações em mangá, mas esses não são os focos desse review. Cabe também o
parêntese que esta é a única obra que possuí dois episódios, mas não tinha essa
necessidade, pois o primeiro já fechava o arco que iria ser contado, mas o
segundo episódio serve mais para levantar dúvidas do que dar respostas. Enfim,
vamos falar mais dessa obra.
Considerações Iniciais.

Aqui
vale ressaltar que a obra adapta apenas o terceiro ato do livro de Soseki, pois
ele fica focado na relação do professor com a senhorita e com o K; tendo inclusive
o segundo episódio totalmente voltado para nos dar a visão do K sobre as coisas
que ocorreram, o que chega a ser curioso, pois não nos dá respostas que ansiávamos,
e sim nos confunde mais, nos deixa com aquela sensação de “no fim a culpa não é
minha”.
Como
dito lá em cima, Obata-sensei assume o character design novamente e nos traz
belos desenhos, como sempre; destaque, em especial, para o K que ficou com cara
de estrangeiro e deslocado. Simplesmente perfeito. A parte sonora segue com
Hideki Taniuchi, que dessa vez trabalhou voltado na diversidade de ritmo, e
isso ajudou demais na condução de todo arco. Sem ressalvas aqui.
Kokoro
Bem, a história do animê
é focada no professor que é um jovem estudante e decide chamar seu amigo de
longa data K, para morar com ele, pois acredita que possa aprender com este
amigo a trilhar o caminho da espiritualidade. K é o típico homem focado, sério
que apenas visa se engrandecer espiritualmente, jamais esperando riquezas ou
gentilezas ao longo de sua vida; já o professor é um homem que vive focado em
seus estudos, sempre sendo atencioso com a senhora que lhe alugou o quarto onde
mora, assim como também é atencioso com a filha desta, a quem chama de
senhorita (Não vou entrar no contexto dele ter dinheiro ou não, já que o animê
diverge um pouco do livro neste ponto).

Obviamente que, no
episódio seguinte vemos os acontecimentos pelo ponto de vista do K, mostrando
os motivos que o levaram a se apaixonar. Mais do que isso, mostrando que, mesmo
amando ele tinha medo de ferir sua amizade com o professor. Mas é como já
frisei, esse episódio serve para muitas respostas e para muitas dúvidas, nos
deixando com mais dúvidas do que em Dom Casmurro (quem gosta desse livro, ou já
ouviu falar vai sacar o que eu quero dizer). Para quem ama uma história que nos
leva a pensar, a obra é um prato cheio, pois ela nos dá uma visão sobre o
egoísmo, sobre até onde vamos quando esse sentimento nos domina. É algo que vai
além de uma interpretação básica e passa a valer até o rendimento de debates.
Fazendo até um pouco valer
a versão literária; o livro em si, foca mais no que o professor se tornou após
tudo que ocorreu nesse triangulo amoroso do que, propriamente dito, no
personagem. O protagonista do livro narra tudo que nota no professor e, mais do
que isso, nos mostra que a amargura dele é carregada ao longo de sua narrativa.
Cabe a analogia que o
subtítulo dessa postagem não está aí de graça e também é uma meia revelação de
tudo, mas não vou me ater demais nisso para não entregar a obra; creio que
valha a curiosidade de cada um, tal qual o esforço para assistir. Esses são os
44 minutos mais interessantes do animê até esse ponto.
Considerações Finais & Técnicas
Como eu disse anteriormente,
esse é um daqueles animês que vale assistir ambos episódios para se ter um
claro entendimento do que se passa com os personagens. Acredito que o livro em
si é válido, não para entender a história mais sim, para conhecer melhor a
ideia que o autor queria passar.
Vale os parabéns a toda
equipe de produção nesse episódio (assim como nos anteriores), que não deixou
nada destoado, e tudo parece bem encaixado e em seu lugar. Talvez minha única ressalva
seja por conta do roteiro assinado pelo Mika Abe, que deixou a história bem
clean (provavelmente visando esse capítulo da visão do K), mas fora isso tudo
aqui está perfeito.
Mencionar, também, que
Kokoro foi publicado aqui no Brasil é mais que válido, é um serviço de
utilidade. A obra, assim como outras três de Soseki, foi publicada em terras
tupiniquins; a diferença é que está é a única obra dele que saiu pela editora
Globo e o preço é mais “acessível” digamos (as outras saíram pela editora
Estação Liberdade e possuem preços na casa dos 50 reais em livrarias).
No fim, acho que até
queria falar mais sobre essa obra, mas independentemente do que eu diga, vale
você, caro leitor, procurar o animê ou o livro e ver o que acha. Tirar suas
próprias conclusões nessa obra vale ouro; mas acima de tudo vale a análise
quanto a questão do egoísmo, pois ela é bem mais profunda e densa do que possa
parecer.
Em todo caso, por hora é
só gente! Até o próximo review ♥
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